Trabalho Comunitário na Baixada Fluminense-RJ

Dra. Ana Maria Ferreira de Souza

(Médica especialista em Pediatria, Homeopatia e Musicoterapia)

O trabalho comunitário que desenvolvi na Baixada Fluminense no Estado do Rio de Janeiro no período de 01/04/1987 à 10/09/1991 me trouxe experiências enriquecedoras em todos os sentidos: profissional, intelectual, cultural, econômico, social, familiar, emocional e espiritual.

Quero fazer um breve relato histórico deste trabalho que realizei com tanto esmero e dedicação e que me trouxe um grande crescimento como pessoa e que por isto tenho tanto orgulho em descrever.

Este projeto nasceu da vontade popular em um movimento que fechou a Rodovia Presidente Dutra na altura da Cidade de Nova Iguaçu no Estado do Rio de Janeiro e teve o apoio de uma entidade relacionada à igreja católica denominada Cáritas Diocesana para que se criassem minipostos de saúde nos bairros mais carentes da cidade de Nova Iguaçu.

A partir deste movimento popular foram mobilizadas ações governamentais as quais instituíram um convênio com o INAMPS para dar assistência à saúde daquela população e para tanto este projeto comunitário contou com a gerência da Cáritas Diocesana.

Foi realizado um concurso público para lotar os 23 minipostos criados com dois médicos: um clínico e um pediatra; um agente de saúde; um auxiliar de enfermagem e um auxiliar de limpeza em cada miniposto. No edital do concurso constava como pré-requisito que os profissionais comprovassem que residiam na cidade de Nova Iguaçu.

Cada profissional de saúde tinha o compromisso de cuidar daquela população carente tanto na assistência médica quanto na instrução em saúde como cuidados de higiene, alimentação adequada àquela realidade econômica com nutrientes de alta qualidade aproveitados com os recursos existentes em cada domicílio. Para tanto fazia parte de nosso trabalho realizar visitas domiciliares e ministrar palestras educativas mensais com temas relevantes em saúde e de interesse daquela população.

Depois da aprovação no concurso público cada profissional passou por uma banca examinadora na qual contava entre seus integrantes um representante da Cáritas, em representante médico do INAMPS, e um representante da Associação de Moradores com o objetivo de se avaliar o perfil comunitário de cada profissional e a partir daí ser atribuída a ele a nota final. O critério da preferência na escolha do miniposto por cada profissional foi baseado nesta nota.

Antes de assumirmos os trabalhos nos minipostos cada profissional passou por um treinamento de um mês, elaborado por especialistas do Ministério da Saúde ao SUS no qual além de abordar temas relacionados aos tratamentos das doenças ambulatoriais mais comuns àquela comunidade também eram ministrados vídeos para sensibilização tanto dos problemas cotidianos vividos pela clientela quanto pelos problemas vividos pelos profissionais de saúde.

Ao longo do exercício do meu trabalho como médica pediatra daquela comunidade foi gratificante perceber o quanto aquelas pessoas tomavam consciência de sua responsabilidade no cuidado de sua própria saúde e da saúde de seus filhos e a confiança e respeito que cada cidadão demonstrava por nós profissionais de saúde.

Além do grande aprendizado que adquiri como profissional naquela comunidade, a convivência com aquelas pessoas me proporcionou trocas enriquecedoras que posso partilhar no exercício do meu trabalho até hoje e que sempre me serão úteis para ajudar outras pessoas, pois todo o ser humano possui a essência divina que nos torna semelhantes entre nós mesmos e semelhantes a Deus que é o autor da vida e nosso Criador.